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De 7 de Fevereiro a 1 de Junho de 2002.
Entrada Livre. "Zoologia
e Botânica do Brasil" - Desenhos de História
Natural
Na Biblioteca Pública
Municipal do Porto guardam-se dois códices relacionados
com a História Natural da Amazónia, ambos provenientes
da Livraria do 2º visconde de Balsemão: o Códice
542, um manuscrito em italiano da autoria de António
José Landi (1713-1791), por ele oferecido a Luís
Pinto de Sousa Coutinho, governador da Capitania do Mato Grosso
de 1767 a 1772, e o Códice 1200, uma colecção
anónima de desenhos aguarelados de animais e plantas,
com legendas em português.
Os desenhos foram atribuídos em 1963
pelo estudioso brasileiro Leandro Tocantins ao autor do manuscrito,
com base na alegada identidade da grafia das legendas. Esta
atribuição chamou a atenção de
outros autores brasileiros para uma faceta menos conhecida
daquele artista bolonhês, contratado em 1750 pela Corte
portuguesa para a comissão de demarcação
de fronteiras do Brasil como desenhador de mapas e de temas
de história natural, mas conhecido sobretudo pela sua
obra de arquitectura. Em 1976 o manuscrito e os desenhos foram
publicados por Augusto Meira Filho, e acompanhados por um
texto do zoólogo Osvaldo Rodrigues da Cunha, associando
os dois códices a Landi. Mais recentemente, Isa Adonias
referiu-se ao manuscrito e aos desenhos como um único
códice, vendo nos segundos uma mera ilustração
do texto manuscrito.
Os desenhos de História Natural
O Códice 1200 é composto por
68 fólios de diferentes tamanhos com desenhos aguarelados
de animais e plantas, oriundos na sua maioria da Amazónia,
embora sejam também incluídos alguns provenientes
do Mato Grosso. Os desenhos, numerados, são acompanhados,
como atrás referimos, por legendas, a lápis,
com as designações das espécies.
Revelando inegáveis dotes de observação,
estes desenhos são do ponto de vista artístico
bastante irregulares. A representação dos animais
é muito deficiente, sobretudo daqueles que são
figurados em movimento (vejam-se por exemplo o macaco, a capivara,
o tamanduá bandeira com o filho, a lontra comendo um
peixe, a onça pintada, etc.). As aguarelas das plantas
são, pelo contrário, muito bem conseguidas.
Tudo indica que este conjunto foi desmembrado
de uma colecção mais alargada de desenhos. Por
um lado, os números que acompanham as legendas repetem-se
sem qualquer lógica, tendo apenas havido o cuidado
de ordenar sequencialmente primeiro os animais e a seguir
as plantas; por outro, faltam representações
de pássaros e de peixes. Deve-se a Isa Adonias a associação
das aguarelas do Porto a uma colecção de desenhos
de história natural do Brasil, pertencente ao arquivo
privado da Casa da Ínsua.
Mas quem terá realizado estes desenhos?
Existem contudo muitos pontos de contacto
com alguns dos desenhos de história natural que fazem
parte da colecção Alexandre Rodrigues Ferreira,
na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e que se julga terem
sido realizados pelos desenhadores que acompanharam aquele
naturalista na expedição que realizou ao Brasil.
Os desenhos do arquivo da Casa da Ínsua
pertenceram a Luís de Albuquerque de Mello Pereira
e Cáceres, governador de Mato Grosso entre 1772 e 1789,
estando ainda na posse dos seus descendentes. A sua longa
permanência à frente desta capitania coincidiu
com a estada de Alexandre Rodrigues Ferreira, naturalista
baiano formado na Universidade de Coimbra, que entre 1783
e 1792 chefiou uma "Expedição Filosófica"
ao norte do Brasil, com o objectivo de recolher material para
o Real Museu da Ajuda. Acompanhado pelos desenhadores Joaquim
José Codina e José Joaquim Freire e pelo jardineiro
botânico Agostinho Joaquim do Cabo, percorreu as capitanias
do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá.
Nos seus escritos Ferreira refere o interesse do governador
por temas de história natural, informando que ele levara
consigo para Portugal desenhos de todo o género de
produções dos três reinos.
As semelhanças detectadas com os desenhos
associáveis à "Expedição
Filosófica" e os contactos havidos entre o naturalista
baiano e o governador do Mato Grosso permitem-nos a colocar
hipótese de as aguarelas da Casa da Ínsua e
do arquivo do Porto terem sido realizadas por Codina ou por
Freire, respondendo possivelmente a uma encomenda de Luís
de Albuquerque. Por razões que desconhecemos a colecção
foi desmembrada, sendo alguns desses desenhos integrados no
acervo do descendente de Luís Pinto de Sousa Coutinho,
o governador que antecedeu Luís de Albuquerque na condução
dos destinos da capitania de Mato Grosso.
Os dois códices da Biblioteca Municipal
do Porto, apesar de terem tido autores distintos, estão
assim unidos por um interesse comum: a Natureza amazónica,
nas suas múltiplas facetas, testemunhada por artistas
europeus. A descrição de Landi, embora já
sem os desenhos que inicialmente acompanharam revela interessantes
aspectos da vivência deste arquitecto bolonhês
no interior da Amazónia; as coloridas aguarelas, muito
provavelmente realizadas pelos desenhadores de Alexandre Rodrigues
Ferreira, ilustram o fascínio deste mundo distante
que assim se revelava aos olhares interessados do velho continente,
em finais do século XVIII.
Isabel Mayer Godinho Mendonça
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Sábados: 10h-17h
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contacte o departamento de Relações
Públicas e Divulgação Cultural da
Biblioteca Nacional.
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