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" (...) Os dois códices da Biblioteca Municipal do Porto, apesar de terem tido autores distintos, estão assim unidos por um interesse comum: a Natureza amazónica, nas suas múltiplas facetas, testemunhada por artistas europeus. A descrição de Landi, embora já sem os desenhos que inicialmente a acompanharam revela interessantes aspectos da vivência deste arquitecto bolonhês no interior da Amazónia; as coloridas aguarelas, muito provavelmente realizadas pelos desenhadores de Alexandre Rodrigues Ferreira, ilustram o fascínio deste mundo distante que assim se revelava aos olhares interessados do velho continente, em finais do século XVIII."

Isabel Mayer Godinho Mendonça

 
  De 7 de Fevereiro a 1 de Junho de 2002. Entrada Livre.

"Zoologia e Botânica do Brasil" - Desenhos de História Natural

Na Biblioteca Pública Municipal do Porto guardam-se dois códices relacionados com a História Natural da Amazónia, ambos provenientes da Livraria do 2º visconde de Balsemão: o Códice 542, um manuscrito em italiano da autoria de António José Landi (1713-1791), por ele oferecido a Luís Pinto de Sousa Coutinho, governador da Capitania do Mato Grosso de 1767 a 1772, e o Códice 1200, uma colecção anónima de desenhos aguarelados de animais e plantas, com legendas em português.

Os desenhos foram atribuídos em 1963 pelo estudioso brasileiro Leandro Tocantins ao autor do manuscrito, com base na alegada identidade da grafia das legendas. Esta atribuição chamou a atenção de outros autores brasileiros para uma faceta menos conhecida daquele artista bolonhês, contratado em 1750 pela Corte portuguesa para a comissão de demarcação de fronteiras do Brasil como desenhador de mapas e de temas de história natural, mas conhecido sobretudo pela sua obra de arquitectura. Em 1976 o manuscrito e os desenhos foram publicados por Augusto Meira Filho, e acompanhados por um texto do zoólogo Osvaldo Rodrigues da Cunha, associando os dois códices a Landi. Mais recentemente, Isa Adonias referiu-se ao manuscrito e aos desenhos como um único códice, vendo nos segundos uma mera ilustração do texto manuscrito.

Os desenhos de História Natural

O Códice 1200 é composto por 68 fólios de diferentes tamanhos com desenhos aguarelados de animais e plantas, oriundos na sua maioria da Amazónia, embora sejam também incluídos alguns provenientes do Mato Grosso. Os desenhos, numerados, são acompanhados, como atrás referimos, por legendas, a lápis, com as designações das espécies.

Revelando inegáveis dotes de observação, estes desenhos são do ponto de vista artístico bastante irregulares. A representação dos animais é muito deficiente, sobretudo daqueles que são figurados em movimento (vejam-se por exemplo o macaco, a capivara, o tamanduá bandeira com o filho, a lontra comendo um peixe, a onça pintada, etc.). As aguarelas das plantas são, pelo contrário, muito bem conseguidas.

Tudo indica que este conjunto foi desmembrado de uma colecção mais alargada de desenhos. Por um lado, os números que acompanham as legendas repetem-se sem qualquer lógica, tendo apenas havido o cuidado de ordenar sequencialmente primeiro os animais e a seguir as plantas; por outro, faltam representações de pássaros e de peixes. Deve-se a Isa Adonias a associação das aguarelas do Porto a uma colecção de desenhos de história natural do Brasil, pertencente ao arquivo privado da Casa da Ínsua.

Mas quem terá realizado estes desenhos?

Existem contudo muitos pontos de contacto com alguns dos desenhos de história natural que fazem parte da colecção Alexandre Rodrigues Ferreira, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, e que se julga terem sido realizados pelos desenhadores que acompanharam aquele naturalista na expedição que realizou ao Brasil.

Os desenhos do arquivo da Casa da Ínsua pertenceram a Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, governador de Mato Grosso entre 1772 e 1789, estando ainda na posse dos seus descendentes. A sua longa permanência à frente desta capitania coincidiu com a estada de Alexandre Rodrigues Ferreira, naturalista baiano formado na Universidade de Coimbra, que entre 1783 e 1792 chefiou uma "Expedição Filosófica" ao norte do Brasil, com o objectivo de recolher material para o Real Museu da Ajuda. Acompanhado pelos desenhadores Joaquim José Codina e José Joaquim Freire e pelo jardineiro botânico Agostinho Joaquim do Cabo, percorreu as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Nos seus escritos Ferreira refere o interesse do governador por temas de história natural, informando que ele levara consigo para Portugal desenhos de todo o género de produções dos três reinos.

As semelhanças detectadas com os desenhos associáveis à "Expedição Filosófica" e os contactos havidos entre o naturalista baiano e o governador do Mato Grosso permitem-nos a colocar hipótese de as aguarelas da Casa da Ínsua e do arquivo do Porto terem sido realizadas por Codina ou por Freire, respondendo possivelmente a uma encomenda de Luís de Albuquerque. Por razões que desconhecemos a colecção foi desmembrada, sendo alguns desses desenhos integrados no acervo do descendente de Luís Pinto de Sousa Coutinho, o governador que antecedeu Luís de Albuquerque na condução dos destinos da capitania de Mato Grosso.

Os dois códices da Biblioteca Municipal do Porto, apesar de terem tido autores distintos, estão assim unidos por um interesse comum: a Natureza amazónica, nas suas múltiplas facetas, testemunhada por artistas europeus. A descrição de Landi, embora já sem os desenhos que inicialmente acompanharam revela interessantes aspectos da vivência deste arquitecto bolonhês no interior da Amazónia; as coloridas aguarelas, muito provavelmente realizadas pelos desenhadores de Alexandre Rodrigues Ferreira, ilustram o fascínio deste mundo distante que assim se revelava aos olhares interessados do velho continente, em finais do século XVIII.


Isabel Mayer Godinho Mendonça


Horário de visita à Exposição: Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h-17h
Encerra domingos e feriados

Entrada Livre. Para mais informações sobre este evento contacte o departamento de Relações Públicas e Divulgação Cultural da Biblioteca Nacional.