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De 26 de Junho a 27 de Setembro de
2003
João
Gaspar Simões, 1903-1987
Expor os «papéis»
de João Gaspar Simões é expor um
capítulo indispensável na história
da literatura portuguesa do século XX. Podemos
discutir a importância da sua obra enquanto romancista
ou a pertinência das suas observações
e conclusões enquanto ensaísta e crítico
literário, tal como ele fez em relação
à maioria dos escritores seus contemporâneos.
Mas o papel de autêntico árbitro do estilo,
esse lugar de juiz que para si próprio inventou,
mais do que realmente ocupou, e no qual, não
sem algum quixotismo, assentou arraiais que duraram
meio século e desafiaram meio mundo, resiste
às oscilações conjunturais de perspectiva,
desenhando-se, nítido e singular, em páginas
que será difícil rasurar da cultura portuguesa
moderna.
Simões é o crítico
por antonomásia, não porque seja superior
aos demais, mas porque ninguém mais o foi com
o denodo e, porventura, a ingenuidade com que ele acreditava
ser, fazendo ao mesmo tempo os outros acreditarem numa
vida literária nacional cuja existência,
pelo menos em certos períodos, talvez houvesse
razões para não tomar tanto a sério.
O voluntarismo que pôs nos mais diversos projectos
a que deitou mãos ou a que se juntou, alguns
dos quais, como a revista presença, foram de
importância indiscutível, a persistência
com que manteve a crítica regular em jornais
e revistas, perante a indiferença dos meios académicos
e a incompreensão que o ofício inevitavelmente
acarreta, e a convicção com que defendeu
as suas ideias fazem dele uma personagem invulgar. Guardar,
pois, o seu espólio na Biblioteca Nacional, alinhar
os seus papéis junto aos milhares de livros sobre
os quais escreveu, é porventura a mais significativa
homenagem que se lhe pode prestar.
A um século do seu nascimento,
uma exposição centrada no espólio
de Gaspar Simões terá todavia de ser vista
a partir da distância que a objectividade requer
e o tempo se encarregou de ir instalando entre nós
e a geração dos que, com ele, deram vida
ou simplesmente agitaram na República o espaço
das letras, um dos raros em que, durante décadas,
a inteligência respirou e a liberdade se reinventou.
O que há nestes papéis é, de facto,
muito mais que a simples herança espiritual de
um apaixonado da literatura que se lhe entregou, a ponto
de fazer dessa paixão um modo de vida. Por detrás
do seu tom amarelecido e desbotado, para além
da sua estrita referência biográfica, é
toda a cultura, senão a história, do nosso
século XX que assoma, com as suas grandezas e
misérias, os seus rasgos criativos e as conhecidas
peias de natureza ideológica e política
que condicionaram o seu contacto, para já não
falar do seu diálogo, com os movimentos estéticos
contemporâneos. Seja, pois, qual for a opinião
que se tenha sobre o trabalho crítico, ensaístico
ou ficcional de Gaspar Simões, o lugar por assim
dizer estratégico que ele ocupou, na fronteira
entre os escritores e o público, tal como o papel
que para si reivindicou de juiz, autorizado e isento,
da criação literária conferem ao
seu legado e às marcas que dele preservamos um
interesse que extravasa em muito a do testemunho individual
de um escritor. Daí que a Biblioteca Nacional,
ao aceitar a generosa doação de sua filha,
a Srª. Dª. Maria Joana Gaspar Simões
Alpuy, tenha também contraído a enorme
responsabilidade de a conservar e legar às gerações
futuras como um retrato invulgarmente expressivo do
nosso passado recente.
A presente exposição,
estamos em crer, constitui uma prova de que essa obrigação
não foi esquecida e de que a Biblioteca Nacional,
com a sua comprovada experiência e a dedicação
que sempre evidenciou na salvaguarda do património
literário e documental, compreendeu a verdadeira
dimensão de Gaspar Simões e tem assegurada
a preservação e o acesso dos investigadores
a um acervo da maior utilidade para o estudo da história
literária portuguesa.
Diogo
Pires Aurélio
Director da Biblioteca Nacional
Horário
de visita à Exposição: |
Dias úteis:
10h - 19h
Sábados: 10h-17h
Encerra domingos e feriados |
De 14/07 a
15/09 |
Dias úteis:
10h - 17h
Encerra Sábados, domingos e Feriados |
Entrada Livre. Para mais informações
sobre este evento contacte o departamento de Relações
Públicas e Divulgação Cultural
da Biblioteca Nacional.
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