Fernando Pessoa
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De 10 de Outubro a 30 de Novembro de 2002. Entrada Livre.

Paradoxos Pessoanos através da Saudade

Pessoa, o nosso Fernando Pessoa, que afinal é património comum de todo o mundo, porque ele foi tão “drama em gente” como profundamente português - o melhor caminho para se tornar universal, que é o que acontece a quem tem “ânsias de infinito” - foi perspectivado pelo escultor Santos Lopes segundo o ponto de vista do exilado, isto é, através da saudade, essa melancolia que não cessa de fazer sofrer tanto quanto dá felicidade.
Multimodo poeta do paradoxo, multifacetado escultor da palavra – leia-se língua portuguesa, “a sua pátria” – Pessoa aparece, por isso, nesta interpretação muito pessoal de um artista português que há trinta anos rumou ao Brasil para “explorar (de novo) novos mundos”, de uma maneira em que forçosamente se havia de rever, primeiro pela curiosa tentativa que Santos Lopes faz de lhe “apanhar” o essencial da sua obra, depois porque, de uma maneira geral, a tridimensionalidade da poesia pessoana parece encontrar, nesta leitura plástica através de volumes, uma forma muito peculiar de ser apresentada, complementando-a numa particular simbiose.
Efectivamente, na indagação do essencial se encontra o fundamento da obra de Santos Lopes, e muito especialmente o conjunto desta exposição, em que se manifesta em plenitude de poder criativo e conhecimento das técnicas. Mantendo um certo hieratismo como base da sua disciplina estética, que bebeu vagamente no mundo medieval europeu, do qual conserva as bases clássicas, a escultura de Santos Lopes apresenta-se tão orgânica como modernizante, ao utilizar contidamente a estilização, eliminando o supérfluo e elegendo a essência, quase a alma num sentido espiritual, em suaves perfis desenhados em volumes compactos, que definem significados de profunda inspiração.
No seu processo escultórico, em que utiliza preferencialmente o bronze como material nobre, o artista revela uma grande minúcia conceptual e artesanal em obras tão eivadas de dinamismo como de lirismo, que nem uma simbologia às vezes demasiado óbvia consegue obnibular, mesmo quando obriga a pensar o espectador na relação cosmológica da obra, invocando o diálogo entre a luz e a obscuridade, o dia e a noite, enfim, os paradoxos tão caros a Fernando Pessoa, aliás a base de toda a sua poética.
Por isso é que todas estas alegorias plasmadas em volumes “como o conteúdo de uma gaveta despejada no chão”, são, antes de mais, figuras em que se retratam, além de pensamentos, situações, estados de alma - sei lá o que mais... - e que, mesmo sem o autor o pretender, nos falam sobretudo de seres que têm na solidão a sua origem comum. Uma solidão que envolve as suas circunstâncias relegando todas as ligações ao mundo real.

Rodrigues Vaz


Horário de visita à Exposição: Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h - 17h
Encerra domingos e feriados

Entrada Livre. Para mais informações sobre este evento contacte o departamento de Relações Públicas e Divulgação Cultural da Biblioteca Nacional.