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Dia 11 de Julho, 18.30h na Livraria da
BN
Eça
de Queirós, Jornalista no Brasil
A presença de Eça de Queirós
no Brasil não se marcou apenas pelo impacto e pela
devoção granjeada por sua obra ficcional.
Em espaços diferentes da Gazeta de Notícias
do Rio de Janeiro, de 1880 a 1897, matérias sob diversas
rubricas trazem a assinatura de Eça de Queirós.
Essa colaboração continuada cimentou e dilatou
a popularidade e o prestígio do ficcionista em terras
brasileiras.
A primeira colaboração do jornalista
Eça de Queirós para a Gazeta de Notícias
vem publicada no dia 24 de julho de 1880, repetindo-se, mensalmente,
até fevereiro de 1882. Prossegue, ainda, com intervalos
maiores, até 24 de outubro do mesmo ano.
Nos anos de 83 a 86, a Gazeta nada publica
firmado por Eça.
Em 1887, rompe-se o silêncio, com a publicação
de A Relíquia e, em 88, com a transcrição
do capítulo final de Os Maias e, de Fradique
Mendes, a publicação das "Notas e recordações"
e das cartas: "Ao Visconde de A.T.", "A
Mme de Jouarre, II", "A Oliveira Martins".
Novo silêncio de 1889 a 1891.
Em janeiro de 92 a Gazeta publica o primeiro número
de seu " Suplemento Literário", o primeiro
do gênero que no Brasil se editou e de que Eça
foi o mentor, o responsável pela criação
e o diretor, sendo de sua autoria o texto de abertura, ou
editorial de lançamento: "A Europa em resumo".
Reinstaura-se, assim, uma presença que se irá
manter até Setembro de 1897, e que, além dos
textos de imprensa, se concretiza através da publicação
de outras cartas de Fradique Mendes ( "A Clara",
I, II, III, IV) e dos contos: "Civilização",
"As histórias: Frei Genebro", "O defunto",
"As histórias: O tesouro)"
Os textos jornalísticos de Eça
para o Brasil, e só eles são aqui recolhidos,
atendendo-se a um critério de gênero em que se
baseia a presente edição crítica de suas
obras, evidentemente ecoam e são parasitários
da vida de entidades reais, extra-texto. Mas, mesmo assim,
o privilégio absoluto do aspecto referencial nunca
se instaura: na textualização da realidade circundante,
o trabalho constante do signo verbal sempre se regista e,
frequentemente, a intervenção de uma imaginação
produtivamente criadora ajuda a plasmar, fertilizando-a, a
informação de que se incumbe o jornalista. Neles
se inscreve, sem dúvida, uma maneira de ver e fazer
ver, de inteligir a realidade em que se apoiam -- a inglesa,
a francesa, a européia em geral -- e à qual
o jornalista continuamente remete, recriando-a. Neles, um
modo de apreender, pensar e representar a sociedade de seu
tempo, aos bocados, se exercita e depura. Assim é que
fatos políticos e do cotidiano, acontecimentos e questões
de política nacional e internacional, retratos de personalidades,
anedotas espraiadas, tudo se vê drenado e selecionado
com a liberdade que ainda hoje marca o trabalho do cronista
e, de certa forma, ainda o do correspondente, e que, no caso
de Eça e a Gazeta, era irrestrita. E tudo se
plasma numa enunciação que contrasta e hiperboliza
para enfatizar, atualizando sempre aquele "espírito"
a que Eça tantas vezes se referiu.
Este volume de Textos de Imprensa IV, reunindo
as matérias enviadas para o Rio de Janeiro, constitui-se,
assim, na apresentação integral e conjunta do
que se pode considerar a obra jornalística de Eça
de Queirós, pensada e elaborada tendo em vista o público
brasileiro, por meio de um mesmo e único veículo
- a Gazeta de Notícias.
Elza Miné
Universidade de São Paulo
Entrada Livre. Para mais informações sobre este evento
contacte o departamento de Relações
Públicas e Divulgação Cultural da
Biblioteca Nacional.
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