De 22 de Abril a 18 de Junho - Entrada livre

Discretos Inimigos do Livro

Para além da satisfação pessoal que encontramos nos livros, no seu manuseamento e leitura, os livros e outros documentos gráficos podem reservar-nos surpresas bem menos agradáveis. Independentemente do local e do tempo, os documentos gráficos representam campo fértil para os insectos que os elegeram como fonte preferencial de sobrevivência. Alheios ao conteúdo, à tendência, ao estilo ou à época, sobre o papel os insectos organizaram a sua vida, interrelacionaram-se com ele e deixaram (ou deixam ainda) marcas indesmentíveis da sua actividade.

Todos os documentos gráficos são potenciais candidatos a um menu de excelência, regra a que apenas escapam os documentos armazenados em boas condições climatéricas, de limpeza e de higienização. Se hoje ainda é complexo reunir estas condições – não por desconhecimento técnico mas porque os recursos não são suficientes – o passado foi pródigo nos testemunhos que nos legou. O papel trabalhado como uma renda nos piores exemplos, ou com algumas galerias simétricas nos casos mais simples, são prova suficiente da passagem, por aquelas linhas, de insectos vorazes e indiferentes. As encadernações desgastadas, revelando os cartões das pastas, são outra prova do mesmo abuso.

Baratas, peixinhos de prata ou piolhos do livro são apenas alguns dos muitos insectos que, ao longo dos séculos, se foram entretendo com o nosso património. Para trás, ficam peças irrecuperáveis reveladoras de condições insalubres. Sobre estas, choramos a perda enquanto registamos lições para o presente e futuro. Só os casos menos graves ou, pelo contrário, apenas as peças mais valiosas, justificam uma intervenção de restauro. Dispomos de técnicas para minimizar esses danos; podemos evitar que situações idênticas se repitam mas podemos e devemos conhecer os DISCRETOS INIMIGOS DO LIVRO para, detectando-os, desencadear um combate sem tréguas. Numa exposição em painéis, os cartazes que apresentamos, recriando uma ideia original do Arquivo Municipal de Lagoa, os livros exemplificativos e um pouco de história institucional deverão incomodar-nos quanto baste.

Luísa Cabral