Damião de Góis. Ian Mabuse (1478-1533 ou 1536) Óleo sobre tela, s.d. Cortesia de Thomas Agnew & Sons, Ltd
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De 25 de Julho a 31 de Outubro de 2002 . Entrada Livre.

Damianus A Goes
[Damiam De Goes]

Do quarto centenário da morte de Damião de Góis – irrealizada uma prevista grande exposição e demais actividades evocativas, imersas nos acontecimentos libertadores de 1974 que tudo, naturalmente sobrelevaram – apenas sobreviveu, por avisada decisão da Comissão Organizadora das comemorações a que presidiu Fernando Piteira Santos, o catálogo da mostra preparada por Francisco Leite de Faria, publicado sob a forma de monumental bibliografia activa e passiva (Lisboa 1977). Obra de referência incontornável, a sua actualização, inevitável, não altera, porém, significativamente, ainda hoje, o levantamento então feito da obra e dos estudos goisianos.

Adquiriu, pois, consciência a ideia de que, na passagem do V Centenário do nascimento deste humanista português, não seria caso de reeditar aquele catálogo nem pretender uma exaustiva exposição bibliográfica, mas propor critérios de inteligibilidade da obra de Damião de Góis, procedendo a uma perspectiva didáctica de leitura da sua obra, maioritariamente latina, e a uma compreensão do seu significado na época.

Trata-se, numa primeira linha de força, de traduzir a obra do humanista do latim de origem para o português actual, no sentido em que se procura dar a conhecer ao público não especializado (i. e., para lá da minoria escassíssima de especialistas) o conteúdo geral dos títulos que compõem essa obra, modo de avaliar os temas que suscitaram interesse ao seu autor. Daí que, no catálogo da exposição, além da literal tradução desses títulos, sejam propostas descrições de conteúdo detalhadas que acompanham os respectivos registos bibliográficos.

Numa segunda linha de força, procura auscultar-se a pertinência mais extensa dessas temáticas eleitas por Damião de Góis, outro modo de dizer que procura avaliar-se o seu significado e projecção no contexto do humanismo cultural e mental do seu tempo, significativamente dominado pela valorização do espaço europeu e pela importância da civilização europeia, numa consciência europocêntrica de um mundo em alargamento de fronteiras, de descobertas...

Damianus A Goes, eques lusitanus – na expressão com que assinou as suas obras – foi um intelectual culto dessa Europa, talvez o mais cosmopolita dos humanistas portugueses, demais no sentido em que tomou o orbe como local genérico de uma errância pelo conhecimento e de uma representação de sensibilidades, itinerando pelos centros universitários, políticos e financeiros mais influentes da época (que se procuram iconizar e cartografar).

Afinal, a obra latina em que Damiam De Goes, humanista e negociante português, verteu na língua internacional do Renascimento a sua curiosidade e admiração pelos feitos e realidades dos homens do seu tempo, editada em vários daqueles grandes centros urbanos, correspondeu à importante viragem laica em que o erasmismo, nomeadamente, se inseriu. Os Opúsculos Vários que o editor Rogério Réscio deu ao prelo em 1544, na universitária cidade de Lovaina – compilando textos de Góis ao lado de epístolas e poemas de outros humanistas –, é marco e prova da projecção intelectual do humanista português, cujo nome foi, em vida, citado em dedicatórias e agradecimentos de inúmeros dos seus contemporâneos.

Damianus a Goes, iuvenis domi nobilis – na expressão de Erasmo de Roterdão, seu amigo, hospedeiro e protector –, foi figura reconhecida por essa Europa do Renascimento, sem deixar de nela integrar a grandeza das coisas portuguesas, tornando-as mesmo exemplo do humanismo de que foi brilhante representante: se a sua célebre Descrição da Cidade de Lisboa não foi editada em vernáculo, procurou justamente representar um paradigma da urbe que se enche de luz nas representações modernas, digna de considerar-se capital de um novo orbe.

Luís Augusto Costa Dias
Área de Investigação em Cultura Portuguesa


Horário de visita à Exposição: Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h-17h
Encerra domingos e feriados

Entrada Livre. Para mais informações sobre este evento contacte o departamento de Relações Públicas e Divulgação Cultural da Biblioteca Nacional.