De 17 de Novembro de 2005 a 2 Março 2006 | Entrada livre

Eis Bocage...

No ano do bicentenário da morte de Manuel Maria Barbosa du Bocage, a BN realiza uma exposição sobre o autor que é indiscutível referência da poesia satírica e erótica portuguesa. Boémio e em toda a sua vida errante e aventureiro, Elmano Sadino – pseudónimo arcádico que criou seguidores sob a designação de elmanismo, mas também rivais tanto poéticos como éticos – granjeou na literatura libertina em voga na sua época um lugar de popularidade: para além da compilação poética em volumes (em 1791, 1799 e 1804), e independentemente da importância estética que têm, ainda hoje, peças como a Epístola a Marília, importa não perder de vista a fama do que circulou em colecções ou poemas avulsos, por exemplo os que compôs na querela com os seus pares arcádicos e até aos seus derradeiros "improvisos".

Poeta cuja lírica prenuncia o movimento romântico, pelos tons sombrios ou traços intimistas e confessionais que emprestou a um discurso de construção ágil (formalmente neoclássico), foi sobretudo pela veia satírica, jocosa e erótica que Bocage, «mais propenso ao furor do que à ternura», mais facilmente penetrou no espaço público do seu tempo. E por essa via, igualmente, «inimigo de hipócritas e frades», foi alvo de perseguição inquisitorial, já na época de crise do Antigo Regime.

Do ponto de vista documental, a exposição parte de um enfoque no lirismo satírico e erótico de Bocage, nomeadamente de circulação clandestina (aspecto em que, mesmo para além do cantor de Marília, a cultura portuguesa foi rica no século XVIII), através de manuscritos e edições que fazem parte dos fundos da Biblioteca Nacional. A este tema associa-se um ambiente plástico da pintura que Ana Rosmaninho, justamente neste ano bocagiano, dedicou ao sensualismo do escritor; do mesmo modo que, no catálogo da exposição, são trazidos ao tema grandes artistas portugueses que consabidamente se inspiraram e ilustraram facetas da vida e da obra do nosso maior poeta setecentista.