De 8 a 31 de Maio de 2006
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Humberto
Delgado (1906-1965) Associando-se às comemorações
do centenário do nascimento de Humberto Delgado,
a Biblioteca Nacional tem patente, em quatro vitrinas
na Sala de Referência, até 31 de Maio
próximo, uma mostra bibliográfica sobre
o General Sem Medo.
Humberto Delgado nasceu a 15
de Maio de 1906 em Boquilobo, Torres Novas. Cedo
ingressou na carreira das armas, frequentando o Colégio Militar entre 1917 e
1922 e a Escola do Exército, onde se formou
em Artilharia em 1925. Participou no golpe militar
de 28 de Maio de 1926 que depôs o regime republicano.
Em 1928 optou pela carreira da Aeronáutica obtendo
o curso de oficial piloto aviador. Em 1936 conclui
o curso de Estado-Maior. Em 1942 foi nomeado representante
do Ar para as negociações com a Inglaterra
para a cedência de bases nos Açores. Devido à eficiência
demonstrada, o governo inglês outorgou-lhe a
Ordem do Império Britânico (CBE),
salientando que arriscara a sua carreira e o seu
futuro pela causa dos Aliados e da liberdade.
Em 1944 é nomeado director
do Secretariado de Aviação Civil. Em
1945 funda os Transportes Aéreos Portugueses
(TAP) e cria as primeiras linhas aéreas de
ligação com Angola
e Moçambique, a chamada "Linha Imperial",
inaugurada em 31 de Dezembro de 1946. Entre 1947
e 1950, foi representante de Portugal na Organização
Internacional da Aviação Civil,
em Montreal, Canadá. Em 1952 é nomeado
adido militar na Embaixada de Portugal em Washington
e membro do comité dos representantes
militares da NATO. Promovido a general com 47
anos é o mais novo
oficial daquela patente. Em 1956 o Governo Americano
concedeu-lhe o grau de oficial da Legião
de Mérito.
Em 1958, acedendo ao convite
da oposição
democrática, apresentou-se como candidato
independente às
eleições presidenciais. O mote
da campanha eleitoral foi lançado pela
célebre frase "Obviamente
demito-o", numa conferência de imprensa
no Café Chave d'Ouro em Lisboa , a 10
de Maio de 1958, em resposta a um jornalista
da France Press que lhe pergunta qual o destino
que daria a Salazar no caso de ganhar as eleições.
A vasta movimentação popular que se seguiu
permitiu criar pela primeira vez em três décadas
de ditadura uma dinâmica de unidade da oposição
contra o regime salazarista. O carisma do "General
sem medo" surgiu como um fenómeno inesperado,
bem como a erupção de massas no processo
eleitoral. O candidato da oposição anunciou
o então facto inédito de não desistir
da ida às urnas.
O povo do norte de Portugal concentrou-se
numa gigantesca manifestação no Porto – a fim de
o receber poucos dias após a sua declaração
contra o ditador. Esta jornada a 14 de Maio de 1958
reacordou um velha tradição de liberalismo
que a ditadura de Salazar não conseguira extinguir
após mais de trinta anos de ditadura. Receando
que a popularidade de Delgado se espalhasse de Norte
a Sul do país, Salazar proibiu a deslocação
deste a Braga - um baluarte do catolicismo e berço
da revolta militar do 28 de Maio de 1926 que instaurara
a ditadura militar. A cidade foi ocupada por cinco
mil membros da Legião Portuguesa - medida preventiva
de intimidação e de exibição
do poder que todavia não impediu vastas concentrações
de pessoas pela região aclamando
o candidato da democracia.
Apanhadas de surpresa pelo levantamento
espontâneo
do entusiasmo popular por todo o país, o regime
tomou medidas de emergência destinadas a evitar
mais demonstrações em Lisboa. Assim,
após a chegada de Delgado à estação
de Santa Apolónia a 16 de Maio de 1958 as forças
da Guarda Nacional Republicana e os agentes da PIDE
exerceram repressão sobre a população
lisboeta que acorrera em massa para receber Delgado.
As notícias dos tumultos e dos ataques das forças
paramilitares contra a população de Lisboa
apareceram na imprensa estrangeira que começou
a dedicar mais atenção a Portugal, país
habitualmente pacato.
Após os incidentes e tumultos ocorridos no Porto
e em Lisboa, a 14 e 16 de Maio, a polícia política
(PIDE) aumentou a repressão contra a população
que participava espontaneamente na campanha apelidada
de "subversiva" pela imprensa controlada.
Apesar do mecanismo eleitoral ser manipulado desde
o recenseamento, apesar das dificuldades intransponíveis
na cópia dos cadernos eleitorais e na distribuição
por parte da oposição dos boletins de
voto, ainda assim o Estado Novo, temendo um enorme
desaire eleitoral, decretou a proibição
da fiscalização do escrutínio
por parte da oposição. Os números
oficiais deram quase 25% dos votos a Humberto Delgado,
contra 75% do candidato oficial, Américo Tomás,
não sendo possível ainda hoje apurar
os resultados reais dada a amplitude da fraude. Com
medo de no futuro passar por um outro "golpe constitucional" que
representava a possibilidade de a oposição
voltar a lançar-se numa campanha eleitoral como
a de 1958, Salazar promove, em Agosto de 1959 uma revisão
constitucional na qual se suprime o sufrágio
directo sendo substituído por sufrágio
indirecto proporcionado por um colégio eleitoral
de total confiança do Governo.
Após as Eleições de 1958, e impedido
de regressar ao cargo de Director Geral da Aviação
Civil, Humberto Delgado criou o Movimento Nacional
Independente (MNI) que visava manter unidas as forças
da oposição que pela primeira vez em
trinta e dois anos se uniram no combate à ditadura.
Após um processo disciplinar foi demitido do
serviço militar activo com o objectivo duplo
de o afastar de contactos com camaradas de armas e
de lhe retirar a imunidade contra a intervenção
da PIDE. Após uma nota oficiosa que o ameaçava
de medidas repressivas e de uma aviso vindo de dentro
do regime de que se preparava uma manifestação
forjada à frente de sua casa com a intenção
de o matar, refugiou-se na Embaixada
do Brasil em Lisboa a 12 de Janeiro
de 1959.
O Governo português tinha uma longa tradição
de recusa do princípio do asilo político,
que vinha da Guerra Civil de Espanha e da Segunda Guerra
Mundial. Portanto, recusou os argumentos invocados
por Humberto Delgado de que a sua vida corria perigo.
As negociações diplomáticas duraram
três longos meses durante os quais se previa
que a situação de Humberto Delgado perduraria
durante anos, à semelhança do que sucedera
em países da América Latina. Até que
Humberto Delgado partiu para o Rio de Janeiro após
as diligências de uma comitiva brasileira liderada
por um jornalista do Diário de Notícias
do Rio de Janeiro, cidade onde
chegou no dia do Tiradentes,
21 de Abril de 1959.
A PIDE,
que já no Brasil fizera uma tentativa
de assassinar Humberto Delgado, infiltrou certos círculos
da oposição mantendo uma apertada vigilância
sobre todos os movimentos do líder da oposição
portuguesa no exílio. Uma intensa campanha de
descrédito e de isolamento, alimentada pelos
serviços secretos, fomentou, gradualmente, ao
longo de um período de cinco anos, a criação
de uma rede de informadores que conseguiu obter a confiança
do General. Foi assim que ele consentiu no encontro
de Badajoz em Fevereiro de 1965. Convencido que se
ia reunir com oficiais portugueses interessados em
derrubar o regime, Humberto Delgado foi de facto ao
encontro da morte. Uma brigada da PIDE chefiada pelo
inspector Rosa Casaco atravessou a fronteira utilizando
passaportes falsos, a fim de montar a cilada que vitimaria
o General e a sua secretária
brasileira, Arajaryr Campos.
13 de Fevereiro de 1965 é a data do encontro
fatídico, marcado para os Correios de Badajoz,
donde aliás enviou quatro postais para quatro
amigos em quatro países diferentes e assinados
com o nome de sua irmã - Deolinda. O objectivo
do envio destes postais correspondia a um código,
previamente combinado, que significava: 'estou vivo
e não estou preso'. Foi o último sinal
de vida e por isso aquela data é considerada
a data do seu assassinato que se pressupõe ter
ocorrido perto de Olivença.
Durante dois meses de especulações e
de mentiras deliberadas da imprensa portuguesa nada
se soube de Humberto Delgado. A pedido do Professor
Emídio Guerreiro em Paris, a Federação
Internacional dos Direitos do Homem enviou a Espanha
uma delegação composta por um escocês,
um italiano e um francês. Estes foram confrontados
com uma muralha de silêncio em Espanha. No entanto,
após o seu regresso a Paris, a 24 de Abril de
1965, os membros da delegação puderam
ler nos jornais as notícias da descoberta dos
dois cadáveres numa campa rasa quase à superfície,
perto da aldeia de Villanueva
del Fresno, num caminho
conhecido por Los Malos
Pasos.
Em 1990, dezasseis
anos após o 25 de Abril de
1974 que restaurou a democracia em Portugal, o general
Humberto Delgado foi postumamente elevado a marechal
da Força Aérea e os seus restos mortais
trasladados para o Panteão
Nacional.
(Biografia retirada de
www.humbertodelgado.pt)
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